25.7.10

Julius Keleras - poezija I


pasiekus lūpas

mane vis dar domina šalnų

muzika, purvino sniego tikrovė,

sandariai uždaryta akimirka,

kai kūnas ima glaustis prie kūno


kai upė ima bristi į upę,

net nebandydama nusirengti,

iškart panirdama į kitą matavimą,

galimas daiktas, net skurdžioj

vaikystės Arkadijoj


galimas daiktas, tai netgi ne upė,

ne judesys ir ne forma, tai rūbas,

gaubiantis išnyrančius juos abu

po keistai iškerojusia vyšnia, tai netgi

ne vyšnia, tai labiau panašu į Angelo sargo šešėlį


galimas daiktas, tai pojūtis, pirmąsyk

nusiplikius ranką, pirmąkart nusibrozdinus

kelį, pirmąsyk išvydus, kaip miręs žmogus

nekalba, neatsistoja ir nesėda

prie mūsų


galimas daiktas, verta vėl mintyse

išardyti krikšto mamos laikrodį senoj fotografijoj,

kad patirtum,

kaip tirta keliai, lūpoms pasiekus

lūpas


encontro de lábios

estou ainda interessado na música da geada

realidade de neve morta

momento hermeticamente fechado

quando os corpos se começam a tocar


quando o rio entra no rio

mesmo sem se tentar despir

afundando-se imediatamente noutra dimensão

possivelmente, numa pura

Arcádia de infância


possivelmente, não é rio

não é movimento, não é forma

é um véu cobrindo os dois que se emergem

sob estranha e frondosa cerejeira

não é a cerejeira

é como a sombra do anjo da Garda


possivelmente, é a sensação

a primeira vez que queimas a mão

a primeira vez que arranhas o joelho

a primeira vez vendo um corpo morto

que não fala, não se levanta e não se senta

perto de nós


provavelmente, no pensamento

vale a pena outra vez desmontar o relógio da madrinha

que descansa na velha fotografia

para experimentar como tremem os joelhos

com o encontro dos lábios



seniai pasibaigusi

aš noriu užstot tau lėktuvo šešėlį

čia, kur džiovos apimtas sodas

kvėpuoja vienu plaučiu


aš noriu, kad čia pasiliktum,

kur dešimtmečiais ligotas balandis

iš balos nekyla seniai nusvarintu sparnu


aš noriu būti tavo drugelis

nulaužtos pušies nulaužtoj viršūnėj,

kur niekaip negali prasidėti

ana, seniai pasibaigusi, vasara


há muito tempo acabado

quero cobrir-te da sombra do avião

aqui, onde o jardim absorvido pela tuberculose

respira com um só pulmão


quero que fiques aqui

onde durante décadas o pombo doente,

com asa há muito tempo desistente, não levanta do charco


quero ser a tua borboleta

na copa partida do pinheiro partido

onde, de nenhuma maneira pode recomeçar

aquele Verão, há muito tempo acabado


Iš lietuvių kalbos vertė Nuno Guimarães ir Giedrė Šadeikaitė.

Julius Keleras - intro



O poeta, fotógrafo e dramaturgo lituano Julius Keleras nasceu a 3 de Março 1961 em Vilnius. Terminou a sua formação musical na escola Juozas Tallat-Kelpša e depois estudou Língua e Literatura Lituana na Universidade de Vilnius. Em 1989 foi admitido na Universidade de Ilinois em Chicago onde obteve o mestrado de Belas Artes.

Durante dos anos trabalhou como editor num Estúdio cinematográfico da Lituânia (1987), na editora “Lumen/Logos” (1992-1995) e também no jornal semanal „Darbininkas“ em New York (1995-2001).

Desde 1992 é o membro do Clube Internacional PEN (Associação Mundial de Escritores) e desde 1999 é membro da Associação Lituana de Escritores. Desde 2005 é também membro da Associação Lituana de Fotografia.

Publicou seis livros de poesia. Os seus poemas foram traduzidos para o russo, eslovaco, húngaro, búlgaro, inglês, sueco, polaco, letão, georgiano, checo, eslovaco, italiano e publicados em jornais, revistas e antologias de vários países. Os seus trabalhos abordam basicamente razões existenciais.

Participou em festivais internacionais de poesia em Riga (Letónia), Medan (Eslovénia), Visby (Suécia), e em leituras do Congresso Internacional PEN de Moscou (2000) e Helsínquia (1998), etc. Recebeu vários prémios pelos trabalhos realizados.